Ao falar-vos do Jack-in-the-box* de Art Spiegelman no antepenúltimo post (habilmente transformado em "Zack in the box") lembrei-me que aquela personagem de banda-desenhada que eu apelidei anteriormente de "a mais inteligente do mundo inteiro" também ela interagiu com esse brinquedo que faz as delícias de pequenos e graúdos:
^^^ Nesta (metade de) página vemos um inspector da alfândega belga abandonar-se a um demoniáco excesso de zelo do qual, mais uma vez, o Gaston é vítima...
E já que voltei a mencionar o assunto, parece-me injusto não falar da outra personagem de banda-desenhada que eu considero a mais inteligente do mundo inteiro - O POPEYE:
^^^ Sempre um gentleman, quer seja na sua incarnação "animada", quer seja na sua versão "cinética" em papel, da autoria de Elzie Crisler Segar...
^^^ Esta é uma das tiras da série que ele desenhava há já dez anos, "The Thimble Theatre"** - e é a pimeira em que o Popeye aparece!
Nela vemos o irmão da formosa Olívia Palito***, o baixinho, acompanhado do então pretende ao amor da dita cuja (que Popeye cedo se encarreguerá de fazer desaparecer) no momento em que ambos vão à procura de um misterioso tesouro... Para tal necessitarão da ajuda de um marinheiro, que de cowboy efectivamente se verá que tem pouco:
[^^^ Acima, uma tira em que Popeye é já uma das personagens principais da série].
Célebre pela sua coragem destemida e os seus ferruginosos espinafres nos desenhos animados, nas "comic strips"**** Popeye é-o mais pela sua naturalmente prodigiosa resistência física...
[As tiras em inglês encontram-se na recente edição intergral da série (cujo terceiro volume chegará em breve a Portugal), da responsablidade da editora norte-americana Fantagraphics. As tiras portuguesas foram lançadas num dos volumes de uma das coleções de B-D do jornal "Público"].
-----------------------------
*: Diable-à-ressort em françês - em português: ...?
**: Literalmente, "o teatro de dedal"...
***: Em inglês, Olive Oyl - Azeitona em Óleo, óleo de azeitona?
****: Tiras cómicas.
sábado, 31 de janeiro de 2009
segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
A primeira meia-página deste ciclo (VI-2-a):
[É a segunda vez que é feita uma referência directa ao poema "O Corvo" de Edgar Allan Poe nesta banda-desenhada; a primeira foi na m-p intitulada "Nevermore"].
[É a segunda vez que é feita uma referência directa ao poema "O Corvo" de Edgar Allan Poe nesta banda-desenhada; a primeira foi na m-p intitulada "Nevermore"].
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
Foi lançada recentemente uma nova edição do "Livro do Desassossego":
... da responsabilidade de Teresa Sobral Cunha*, uma das investigadoras responsáveis pela primeira edição do Livro em 1982**, e que continuou a trabalhar nele durante anos com o fito de apresentar ao público uma edição digna da complexidade de ideação (inacabada) do próprio Pessoa, segundo os seus numerosos planos e tendo em conta a evolução da atribuição do Livro a "personalidades" diversas: Vicente Guedes e Bernardo Soares.
Esta é a segunda edição do "Livro do Desassossego" que leio.
A primeira foi da responsabilidade de Richard Zenith*** e aqui está a capa do meu exemplar:
A diferença essencial entre estes dois livros diz respeito à organização dos trechos:
- no primeiro caso ela é cronológica - a datação dos textos é conjecturada a partir das suas características físicas, assim como pelas afinidades temáticas, sendo que a maioria dos textos tardios (os de Bernardo Soares) estão datados.
- no segundo caso, é temática, mas o investigador norte-americano chega a propor no prefácio uma edição ideal em folhas soltas, estabelecendo assim um paralelo conceptual com a dispersão "natural" dos textos.
Duas leituras bem diferentes portanto.
Resta-me dizer que o "Livro do Desassossego" é alvo de forte atenção editorial desde a década de 1960, estando a edição inaugural inicialmente a cargo de Jorge de Sena (um dos primeiros editores de Pessoa, com o volume "Páginas de Doutrina Estética" de 1946), empreendimento do qual teve que desistir por estar nessa época a residir e a trabalhar do outro lado do oceano atlântico, mas para a qual ainda escreveu uma volumosa introdução (em muitos aspectos definitiva) que poderão consultar no seguinte volume:
Para acabar, um excerto da "Marcha Fúnebre para o Rei Luís Segundo da Baviera", do "Livro do Desassossego" de Fernando Pessoa/Vicente Guedes:
«... A vida da matéria ou é puro sonho, ou mero jogo atómico, que desconhece as conclusões da nossa inteligência, ficção de superfície e do descaminho, e os motivos da nossa emoção. Assim a essência da vida é uma ilusão, uma aparência, ou é ser ou não ser, e a ilusão e aparência de nada ser, tem que ser não-ser, a vida é a morte.
Vão o esforço que constrói com os olhos na ilusão de não morrer! «Poema eterno», dizemos nós; «palavras que nunca morrerão»! Mas o esfriamento material da terra levará não só os vivos que a cobrem, como o (...)
Um Homero ou um Milton não podem mais que um cometa que bata na terra.»
------------------------------
*: Autora da (re)construção de "FAUSTO - Uma Tragédia Subjectiva" de Fernando Pessoa.
**: Recolha e transcrição dos textos, Maria Alhiete Galhoz e Teresa Sobral Cunha; prefácio e organização de Jacinto do Prado Coelho.
***: Também tradutor da obra para inglês.
... da responsabilidade de Teresa Sobral Cunha*, uma das investigadoras responsáveis pela primeira edição do Livro em 1982**, e que continuou a trabalhar nele durante anos com o fito de apresentar ao público uma edição digna da complexidade de ideação (inacabada) do próprio Pessoa, segundo os seus numerosos planos e tendo em conta a evolução da atribuição do Livro a "personalidades" diversas: Vicente Guedes e Bernardo Soares.
Esta é a segunda edição do "Livro do Desassossego" que leio.
A primeira foi da responsabilidade de Richard Zenith*** e aqui está a capa do meu exemplar:
A diferença essencial entre estes dois livros diz respeito à organização dos trechos:
- no primeiro caso ela é cronológica - a datação dos textos é conjecturada a partir das suas características físicas, assim como pelas afinidades temáticas, sendo que a maioria dos textos tardios (os de Bernardo Soares) estão datados.
- no segundo caso, é temática, mas o investigador norte-americano chega a propor no prefácio uma edição ideal em folhas soltas, estabelecendo assim um paralelo conceptual com a dispersão "natural" dos textos.
Duas leituras bem diferentes portanto.
Resta-me dizer que o "Livro do Desassossego" é alvo de forte atenção editorial desde a década de 1960, estando a edição inaugural inicialmente a cargo de Jorge de Sena (um dos primeiros editores de Pessoa, com o volume "Páginas de Doutrina Estética" de 1946), empreendimento do qual teve que desistir por estar nessa época a residir e a trabalhar do outro lado do oceano atlântico, mas para a qual ainda escreveu uma volumosa introdução (em muitos aspectos definitiva) que poderão consultar no seguinte volume:
Para acabar, um excerto da "Marcha Fúnebre para o Rei Luís Segundo da Baviera", do "Livro do Desassossego" de Fernando Pessoa/Vicente Guedes:
«... A vida da matéria ou é puro sonho, ou mero jogo atómico, que desconhece as conclusões da nossa inteligência, ficção de superfície e do descaminho, e os motivos da nossa emoção. Assim a essência da vida é uma ilusão, uma aparência, ou é ser ou não ser, e a ilusão e aparência de nada ser, tem que ser não-ser, a vida é a morte.
Vão o esforço que constrói com os olhos na ilusão de não morrer! «Poema eterno», dizemos nós; «palavras que nunca morrerão»! Mas o esfriamento material da terra levará não só os vivos que a cobrem, como o (...)
Um Homero ou um Milton não podem mais que um cometa que bata na terra.»
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*: Autora da (re)construção de "FAUSTO - Uma Tragédia Subjectiva" de Fernando Pessoa.
**: Recolha e transcrição dos textos, Maria Alhiete Galhoz e Teresa Sobral Cunha; prefácio e organização de Jacinto do Prado Coelho.
***: Também tradutor da obra para inglês.
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
De ART SPIEGELMAN chegou agora a Portugal um novo livro:
... Da colecção que a Françoise Mouly edita, a "Toon Books"*, e da qual A. Spiegelman é "series advisor"...
Como os outros livros desta colecção, a linguagem utilizada é limitada ao vocabulário acessível a crianças muito novas** (seguindo os programas escolares americanos) e a própria história está estruturada à volta de elemenos muitos simples, o que já é uma característica pessoal deste autor.
O autor, que nas suas palavras não desenha bem, mostra-nos no exemplo acima apresentado que domina no entanto simples mas eficientes regras de composição espacial, e de representação: é de notar que neste primeiro quadradinho o filho coelho (Jack) está no extremo de um segmento de recta perpendicular ao que é formado pelos pais e a caixa, uns ao lado dos outros (segundo o nosso ponto de vista formam os dois segmentos um ângulo oblíquo). No segundo, e devido ao efeito de surpresa, as figuras estão agora alinhadas perpendicularmente (obliquamente) ao segmento em cuja extremidade está a caixa de onde irrompe o Zack.
O desenho é simples, elegante e estruturado.
^^^ Acima, o culminar de uma espécie de desenvolvimento "místico" da narrativa : o vaso quebrado está só fissurado, quase magoado, apesar de ter caído violentamente ao chão - a capa reproduzida no início deste post dá um indício de como tal aconteceu.
Art é conhecido por ter representado como ratos os judeus na sua obra "Maus"***, em que conta a história dos seus pais (e a sua), ambos sobreviventes de um campo de "concentração" alemão****, fazendo do genocídio um jogo do gato e do rato à escala mundial - os alemães são gatos, os polacos são porcos, etc...
Neste livro ("Jack and the Box") Art Spiegelman desenvolve o tema e a problematização da Representação, a sua e a dos outros, conforme é abordada na página acima reproduzida - a primeira do segundo volume de "Maus" - mas a família desta história (também um casal e um filho único) é agora "doce e meiga", coelhos (Spiegelman é agora pai de família); o Zack é que pode não ser o que parece...
Do ponto de vista "literário" este "Jack and the Box" retoma directamente um tema abordado numa história curta realizada nos anos setenta*****, escrito na caixa do desenho acima apresentado (em francês, "diable-à-ressort", em inglês "Jack IN the box" - e não Zack - tradicionalmente representado como um diabo-palhaço, neste caso ostentando um barrete tri-fálico) (... Freud irá a seguir tentar convencer um homem de que não está morto).
A ideia está lá toda escrita, o que faz deste livro infantil a nova glosa de um mote já importante no percurso deste autor.
--------------------------------------
*: Ver link na barra lateral na categoria "Autores de B.D. na internet".
**: Para os jovens leitores portugueses esta obra poderia ser uma ferramenta muito útil para aprender inglês (mas eu acho que a sua maior qualidade é simplesmente a de ser uma leitura de grande qualidade).
***: Primeira e única B-D premiada com o prémio Pulitzer (1992).
****: Os primeiros campos de concentração e extermínio da nossa era surgiram precisamente em África do Sul, na época em que Fernando Pessoa lá residiu, e foram obra dos britânicos sobre a população indígena e não só.
*****: E agora reeditada no álbum "Breakdowns". Ver o post do dia 9 de Dezembro de 2008, e o respectivo link para a entrevista onde A.S. explica a ligação entre uma e outra obra.
... Da colecção que a Françoise Mouly edita, a "Toon Books"*, e da qual A. Spiegelman é "series advisor"...
Como os outros livros desta colecção, a linguagem utilizada é limitada ao vocabulário acessível a crianças muito novas** (seguindo os programas escolares americanos) e a própria história está estruturada à volta de elemenos muitos simples, o que já é uma característica pessoal deste autor.
O autor, que nas suas palavras não desenha bem, mostra-nos no exemplo acima apresentado que domina no entanto simples mas eficientes regras de composição espacial, e de representação: é de notar que neste primeiro quadradinho o filho coelho (Jack) está no extremo de um segmento de recta perpendicular ao que é formado pelos pais e a caixa, uns ao lado dos outros (segundo o nosso ponto de vista formam os dois segmentos um ângulo oblíquo). No segundo, e devido ao efeito de surpresa, as figuras estão agora alinhadas perpendicularmente (obliquamente) ao segmento em cuja extremidade está a caixa de onde irrompe o Zack.
O desenho é simples, elegante e estruturado.
^^^ Acima, o culminar de uma espécie de desenvolvimento "místico" da narrativa : o vaso quebrado está só fissurado, quase magoado, apesar de ter caído violentamente ao chão - a capa reproduzida no início deste post dá um indício de como tal aconteceu.
Art é conhecido por ter representado como ratos os judeus na sua obra "Maus"***, em que conta a história dos seus pais (e a sua), ambos sobreviventes de um campo de "concentração" alemão****, fazendo do genocídio um jogo do gato e do rato à escala mundial - os alemães são gatos, os polacos são porcos, etc...
Neste livro ("Jack and the Box") Art Spiegelman desenvolve o tema e a problematização da Representação, a sua e a dos outros, conforme é abordada na página acima reproduzida - a primeira do segundo volume de "Maus" - mas a família desta história (também um casal e um filho único) é agora "doce e meiga", coelhos (Spiegelman é agora pai de família); o Zack é que pode não ser o que parece...
Do ponto de vista "literário" este "Jack and the Box" retoma directamente um tema abordado numa história curta realizada nos anos setenta*****, escrito na caixa do desenho acima apresentado (em francês, "diable-à-ressort", em inglês "Jack IN the box" - e não Zack - tradicionalmente representado como um diabo-palhaço, neste caso ostentando um barrete tri-fálico) (... Freud irá a seguir tentar convencer um homem de que não está morto).
A ideia está lá toda escrita, o que faz deste livro infantil a nova glosa de um mote já importante no percurso deste autor.
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*: Ver link na barra lateral na categoria "Autores de B.D. na internet".
**: Para os jovens leitores portugueses esta obra poderia ser uma ferramenta muito útil para aprender inglês (mas eu acho que a sua maior qualidade é simplesmente a de ser uma leitura de grande qualidade).
***: Primeira e única B-D premiada com o prémio Pulitzer (1992).
****: Os primeiros campos de concentração e extermínio da nossa era surgiram precisamente em África do Sul, na época em que Fernando Pessoa lá residiu, e foram obra dos britânicos sobre a população indígena e não só.
*****: E agora reeditada no álbum "Breakdowns". Ver o post do dia 9 de Dezembro de 2008, e o respectivo link para a entrevista onde A.S. explica a ligação entre uma e outra obra.
terça-feira, 6 de janeiro de 2009
O post de ontem sobre máquinas de escrever lembrou-me aquela personagem de banda-desenhada que eu considero a mais inteligente do mundo inteiro - o Gaston Lagaffe (Gastão A Gafe):
É claro que o dito energúmeno (comparado ao Leonardo da Vinci por leitores da revista Spirou onde ele semeava o caos, e para a qual aliás ele trabalhava!) teve a oportunidade de "interagir" com essa até há pouco imprescindível ferramenta escritorial, como podem constatar:
Aqui abaixo podem ver a surpresa do Fantasio ao descobrir que afinal o Gastão não lhe pedira a sua máquina para aprender a escrever:
Enfim...
É claro que o dito energúmeno (comparado ao Leonardo da Vinci por leitores da revista Spirou onde ele semeava o caos, e para a qual aliás ele trabalhava!) teve a oportunidade de "interagir" com essa até há pouco imprescindível ferramenta escritorial, como podem constatar:
Aqui abaixo podem ver a surpresa do Fantasio ao descobrir que afinal o Gastão não lhe pedira a sua máquina para aprender a escrever:
Enfim...
segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
A última meia-página deste ciclo (VI-1-e):
Seguida de uma série de fotografias de máquinas de escrever da época tiradas do site "My Typewritter Collection", onde se pode ver a evolução de vários sistemas até à padronização do equipamento, por razões de eficiência supõe-se - uma autêntica (r)evolução industrial das espécies:
(1889)
(1891)
(1896)
(1896)
(1900)
(1902)
(1902 - a primeira máquina "frontstroke".)
(1904 - aquela que me serviu de modelo.)
Seguida de uma série de fotografias de máquinas de escrever da época tiradas do site "My Typewritter Collection", onde se pode ver a evolução de vários sistemas até à padronização do equipamento, por razões de eficiência supõe-se - uma autêntica (r)evolução industrial das espécies:
(1889)
(1891)
(1896)
(1896)
(1900)
(1902)
(1902 - a primeira máquina "frontstroke".)
(1904 - aquela que me serviu de modelo.)
sábado, 3 de janeiro de 2009
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