quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

A meia-página III-B-III-3-c...

... e a capa da edição fac-similada da revista "Atena"...

... onde se encontra o texto "Apontamentos para uma estética não-aristotélica" de Álvaro de Campos, a que já fiz aqui referência, no seguinte apontamento.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Meia-página III-B-III-3-b:

- "Aviso por causa da moral" de Álvaro de Campos:

- "O meu manifesto a toda a gente" de António Botto:

- "Sobre um manifesto de estudantes" de Fernando Pessoa:

- O seu cunhado, Franciso Caetano Dias (fotobiografia de F.P.)...

... E uma entrevista com Art Spiegelman...

... o próximo presidente do Festival de BD de Angoulême.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A meia-página III-B-III-3-a (a primeira do último grupo de 5 m-p - o terceiro e último do também terceiro e último ciclo de 15 m-p, do segundo e último conjunto de 45 m-p, do terceiro e último arco de 90 - ver aqui):

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"Lisbon Revisited (1923)":

Não: não quero nada.
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja de companhia!

Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflecte!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!

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[^^^ : Crónica de Rui Tavares publicada hoje no "Público"].
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(E melhoras para a colorista, que está doente).

sábado, 17 de dezembro de 2011

Meia-página III-B-III-2-e:

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Sobre a "Olisipo", dois livros:

- "Fazer pela vida" de António Mega Ferreira, e...

... "Fernando Pessoa Empregado de escritório", de João Rui de Sousa.
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Continuando o episódio anterior da oferta de emprego da "Companhia Industrial de Portugal e das Colónias", a carta de resposta à proposta de F.P. enquanto dirigente da "Olisipo":

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As «teorias pré-"sensacionistas"» mencionadas no terceiro quadradinho encontram-se transcritas no livro "Sensacionismo e Outros Ismos", de Jerónimo Pizarro:

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^^^ : "O Banqueiro Anarquista".
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^^^ : No último quadradinho da m-p apresentada, uma recriação, por Catarina Verdier, da capa original da primeira "Contemporânea" que, descubro eu agora, está disponível, assim como o resto da série, para consulta on-line no sítio da Hemeroteca Digital.

Despeço-me com a carta "De Newcastle-on-Tyne Álvaro de Campos escreve à Contemporânea", onde o engenheiro fala de «estética e et cetera»...

- «Meu querido José Pacheco»...

sábado, 10 de dezembro de 2011

- A penúltima meia-página deste grupo de 5 (III-B-III-2-d):

- Uma fotografia de Raúl Leal:

- Outra de António Botto:

(Pelo que me é dado preceber, o título da 1ª edição das "Canções" é na realidade "Canções do Sul", mas, por falta de espaço, não me foi possível mencioná-lo).

- Notas a uma carta do administrador da "Companhia Industrial", do livro "Fernando Pessoa - Correspondência Inédita", já aqui mencionado:

(Eduardo Freitas da Costa é o autor de "Fernando Pessoa – Notas a uma Biografia Romanceada", de 1951).

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Entretanto: não é todos os dias que dois autores de banda-desenhada, ou melhor, de comics, são referidos na imprensa generalista portuguesa, nomeadamente no "Público".

No seguinte artigo, são referidas as escandalosas declarações do autor de "Batman - The Dark knight Returns", proferidas no seu blogue como se a matéria tratada, o movimento de protesto em Wall Street, não passasse de um simples enredo de BD:

«“Occupy” is nothing but a pack of louts, thieves, and rapists, an unruly mob, fed by Woodstock-era nostalgia and putrid false righteousness. These clowns can do nothing but harm America».

Alan Moore, o outro artista (escritor) aí referido, é o autor de, entre outros, "V for Vendetta", obra responsável por "reanimar" a seguinte figura histórica...

... que é precisamente a que serve de "imagem de marca" à recente onda de protestos.

Na seguinte entrevista (daí o título do artigo do "Público") é transcrita a sua opinião sobre as declarações de Miller (entre outras coisas):

«I think that there has probably been a rather unpleasant sensibility apparent in Frank Miller’s work for quite a long time. Since I don’t have anything to do with the comics industry, I don’t have anything to do with the people in it. I heard about the latest outpourings regarding the Occupy movement. It’s about what I’d expect from him».

Uma "algo desagradável sensibilidade" está de facto presente há muito na obra desse empolgante autor de BD e é pena que ele, aparentemente, não saiba distinguir a ficção da realidade. A não ser que o saiba e aí o caso muda de figura:

(A "tira" acima reproduzida é da autoria de Laerte).

domingo, 4 de dezembro de 2011

A meia-página III-B-III-2-c...

... cujo título poderia ser somente outra referência shakespeariana, mas como se trata aqui da obra de um poeta mais do que complexo, o título é quase literalmente o último verso de um poema de Ricardo Reis, datado de 28/09/1932:

Nada fica de nada. Nada somos.
Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos
Da irrespirável treva que nos pese
Da húmida terra imposta,
Cadáveres adiados que procriam.

Leis feitas, estátuas vistas, odes findas —
Tudo tem cova sua. Se nós, carnes
A que um íntimo sol dá sangue, temos
Poente, porque não elas?
Somos contos contando contos, nada.


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Como escreveu Álvaro de Campos, «a metafísica é uma consequência de estar mal disposto».

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A meia-página III-B-III-2-b...

... com mais uma referência shakespeariana (esta da minha responsabilidade): na peça "Hamlet", na segunda cena do segundo acto, o famoso protagonista explica a dois "amigos" (que irá depois matar) que «O God, I could be bounded in a nut-shell, and count myself a king of infinite space, were it not that I have bad dreams».

É engraçado verificar a disparidade de sentido patente em algumas traduções desta passagem, que passo a citar sem nomear os tradutores (vivos e mortos):

- «Meu Deus! Podia ver-me confinado ao interior de uma noz e considerar-me rei dos espaços infinitos -, não tivesse eu sonhos agitados».

- «Acharia vasto reino uma casca de noz, se não fossem meus terríveis sonhos».

- «Meu Deus! Eu poderia estar metido numa casca de noz e considerar-me rei dum imenso território, se não tivesse maus sonhos».

- «Meu Deus! Eu poderia estar fechado numa casca de noz e considerar-me rei dos espaços infinitos, se não fossem os maus sonhos que tenho».

- «Ó meu Deus! Eu queria estar encerrado numa casca de noz e supôr-me soberano de um Estado imenso... Mas estes sonhos terríveis tornam-me infeliz».

O caso é o seguinte, restrigindo ao máximo o contexto: confrontados com a visão absolutista do príncipe da dinamarca que considera o seu país uma gigantesca prisão (e até o mundo), os seus amigos (enviados pelo agora Rei, seu tio, que Hamlet desconfia ser culpado do assassínio do seu pai, um fantasma que lhe reclama vingança) não concordam, ao que ele responde que o pensar é que define o bem e o mal, acusando-os portanto implicitamente de não pensar.
Não percebendo ou não querendo perceber a "indirecta" procuram convençê-lo de que ele anda perturbado por causa de uma exagerada e pouco saudável ambição. Segue-se a fala acima traduzida que contém uma poderosa imagem visual: estar preso sem o estar numa singela casca de noz, não fora o que ele ironicamente chama de "maus sonhos", a funesta incubência de vingar o crime acima referido - um trágico dever portanto.

É de notar que, em carta de 14/09/1929 a Ofélia Queirós, Fernando refere-se à importância que tem para si a sua produção literária em termos de "maldição":
«Não sei escrever cartas grandes. Escrevo tanto por obrigação e por maldição, que chego a ter horror a escrever para qualquer fim útil ou agradável».