A terceira meia-página deste grupo de 5 (III-A-II-1-c):
As odes futuristas apresentadas, os inícios de três delas, fazem parte das cinco odes referidas anteriormente, na BD e no blogue, e encontram-se no "Livro de Versos" editado pela Teresa Rita Lopes abaixo apresentado...
... e cuja última edição, melhorada penso eu, foi publicada pela Assírio&Alvim.
Aí também se encontram muitas elucidações sobre a inicial verve futurista de um Caeiro ainda em elaboração e o consequente aparecimento do Álvaro de Campos, decadentemente futurista.
No terceiro quadradinho a referência ao anti-clericalismo do oitavo poema de "O Guardador de Rebanhos" é baseada em dizeres do próprio Pessoa, anos mais tarde*, ao explicar porque não o publicára na revista "Atena": «por o que é de ofensivo para a Igreja Católica; nem isso convinha à "Athena", como publicação em geral, nem estava certo, sendo católico o Rui Vaz, director comigo da revista e proprietário dela». A referência a Guerra Junqueiro vem de uma ideia de Eduardo Lourenço a esse propósito.
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*: Carta a Joaõ Gaspar Simões de 3 de Dezembro de 1930.
O último quadradinho mostra o aparecimento do Ricardo reis (que será nomeado mais à frente) e estabelece a distinção entre este defensor do neo-paganismo português e o António Mora - também defensor desse desejado movimento de regeneração cultural. Este último é inspirado pelo "objectivismo pagão" de Caeiro (ver m-p anterior) e Reis é-o pelo "paganismo objectivista" do Mestre, oposto, como aí digo, ao panteísmo cristão de São Francisco de Assis, «um dos mais venenosos e traiçoeiros inimigos da mentalidade ocidental» como se deleita a escrever Fernando Pessoa, pouco antes de morrer, no texto celebratório dos vinte anos da revista "Orfeu" intitulado "Nós os de Orpheu".
quinta-feira, 28 de abril de 2011
terça-feira, 26 de abril de 2011
A meia-página seguinte (III-A-II-1-b) contém alguns elementos importantes que convém aqui comentar:
- O seu título é também o de um livro de poemas de Robert Browning, célebre poeta vitoriano (portanto bem do conhecimento de Pessoa), e é comum citar-se esse cultor do "monólogo dramático" no âmbito dos estudos pessoanos, quando se aborda o problema da despersonalização dramático-lírica, raiz do fenómeno da heteronímia (ver por ex. aqui uma das explicações do próprio F.P.).
No "Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo Português", a professora Mariana de Castro explica-nos que «Browning chegou a desejar criar poesia ainda mais despersonalizada, publicando obras sob diferentes máscaras e identidades de forma a ocultar a sua verdadeira autoria (...) "no other than one and the same individual"».
"Dramatis Personae" significa literalmente: "personagens do drama".
- No primeiro quadradinho o episódio da passagem a limpo do manuscrito de "O Guardador de Rebanhos" é representado segundo a descrição documental do processo feita por Ivo Castro - rascunhos em papéis soltos, primeira passagem a limpo dos primeiros poemas e segunda e final passagem a limpo, em quatro cadernos de papel almaço branco e pautado (ver aqui o original).
- A expressão "o glorioso poeta" é tirada de um dos excertos da falsa entrevista ao Alberto Caeiro, inicialmente residente em Vigo ("Poesia" de A.Caeiro, p. 197, Assírio&Alvim - Maio 2004).
- O poema "Casa a Casa" (que lembra, digo eu, Cesário Verde), de início atribuído a Caeiro, depois a Álvaro de Campos, é uma das "5 Futurist Odes" (citadas na m-p «Mas a minha tristeza é sossego»), conforme nos explica Richard Zenith no acima mencionado livro de poesia caeiriana.
- Nas minhas notas há a referência a um texto de António Mora com data de 9 de Março de 1914, intitulado "Teoria dos Deuses"...
- O pai de Sá-Carneiro foi de facto obrigado a ir trabalhar para Moçambique, mais precisamente em Lourenço Marques, e pode-se dizer que é a partir daí que a sua relação com o filho se vai complicar - monetariamente - levando este último, entre outras razões, a um desespero suicida (informação extraída do livro "A morte de Mário de sá-Carneiro", de João Pinto de Figueiredo).
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[^^^ Página nº 107].
[^^^ Página dupla nº 106-107].
- O seu título é também o de um livro de poemas de Robert Browning, célebre poeta vitoriano (portanto bem do conhecimento de Pessoa), e é comum citar-se esse cultor do "monólogo dramático" no âmbito dos estudos pessoanos, quando se aborda o problema da despersonalização dramático-lírica, raiz do fenómeno da heteronímia (ver por ex. aqui uma das explicações do próprio F.P.).
No "Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo Português", a professora Mariana de Castro explica-nos que «Browning chegou a desejar criar poesia ainda mais despersonalizada, publicando obras sob diferentes máscaras e identidades de forma a ocultar a sua verdadeira autoria (...) "no other than one and the same individual"».
"Dramatis Personae" significa literalmente: "personagens do drama".
- No primeiro quadradinho o episódio da passagem a limpo do manuscrito de "O Guardador de Rebanhos" é representado segundo a descrição documental do processo feita por Ivo Castro - rascunhos em papéis soltos, primeira passagem a limpo dos primeiros poemas e segunda e final passagem a limpo, em quatro cadernos de papel almaço branco e pautado (ver aqui o original).
- A expressão "o glorioso poeta" é tirada de um dos excertos da falsa entrevista ao Alberto Caeiro, inicialmente residente em Vigo ("Poesia" de A.Caeiro, p. 197, Assírio&Alvim - Maio 2004).
- O poema "Casa a Casa" (que lembra, digo eu, Cesário Verde), de início atribuído a Caeiro, depois a Álvaro de Campos, é uma das "5 Futurist Odes" (citadas na m-p «Mas a minha tristeza é sossego»), conforme nos explica Richard Zenith no acima mencionado livro de poesia caeiriana.
- Nas minhas notas há a referência a um texto de António Mora com data de 9 de Março de 1914, intitulado "Teoria dos Deuses"...
- O pai de Sá-Carneiro foi de facto obrigado a ir trabalhar para Moçambique, mais precisamente em Lourenço Marques, e pode-se dizer que é a partir daí que a sua relação com o filho se vai complicar - monetariamente - levando este último, entre outras razões, a um desespero suicida (informação extraída do livro "A morte de Mário de sá-Carneiro", de João Pinto de Figueiredo).
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[^^^ Página nº 107].
[^^^ Página dupla nº 106-107].
domingo, 24 de abril de 2011
quarta-feira, 13 de abril de 2011
A meia-página seguinte (III-A-I-3-c)...
... prossegue o tema do Dia Triunfal, iniciado no grupo de 5 m-p anterior, e apresenta no segundo "quadrinho" o princípio do segundo poema do conjunto intitulado "Chuva Oblíqua", quadradinho esse aliás bastante "interseccionista"...
No texto do primeiro quadradinho continuo a tentar fazer coincidir as duas verdades do famoso Acontecimento Poético, como já aqui foi explicado, e aproveitei ideias de dois textos pessoanos: a carta a Casais Monteiro e o texto que relata um dos nascimentos de Ricardo Reis, assim como considerações resultantes dos estudos aos documentos originais, levados a cabo por muitos estudiosos pessoanos...
[^^^ Página 105].
[^^^ Página dupla 104-105].
... prossegue o tema do Dia Triunfal, iniciado no grupo de 5 m-p anterior, e apresenta no segundo "quadrinho" o princípio do segundo poema do conjunto intitulado "Chuva Oblíqua", quadradinho esse aliás bastante "interseccionista"...
No texto do primeiro quadradinho continuo a tentar fazer coincidir as duas verdades do famoso Acontecimento Poético, como já aqui foi explicado, e aproveitei ideias de dois textos pessoanos: a carta a Casais Monteiro e o texto que relata um dos nascimentos de Ricardo Reis, assim como considerações resultantes dos estudos aos documentos originais, levados a cabo por muitos estudiosos pessoanos...
[^^^ Página 105].
[^^^ Página dupla 104-105].
segunda-feira, 11 de abril de 2011
A segunda meia-página deste grupo de 5* - o terceiro do primeiro ciclo de 15 m-p, do primeiro conjunto de 45 do terceiro arco de 90 - (III-A-I-3-b):
A expressão "redes de pesca e cabos de aço" é do próprio Pessoa e é tirada de uma carta datada de 19 de Julho de 1914, endereçada a Mário Beirão:
«A literatura que tenho recentemente feito tem sido principalmente sobre redes de pesca e cabos de aço. A Matéria tem vencido. Exagero é claro. Alguma coisa tenho feito. Mas não creio que seja do género que lhe agrade muito».
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*: Ver aqui para perceber mais ou menos esta história de grupos, ciclos, conjuntos e arcos - outra forma, como aí digo, de me colocar a seguinte pergunta: «como contar esta história?».
A expressão "redes de pesca e cabos de aço" é do próprio Pessoa e é tirada de uma carta datada de 19 de Julho de 1914, endereçada a Mário Beirão:
«A literatura que tenho recentemente feito tem sido principalmente sobre redes de pesca e cabos de aço. A Matéria tem vencido. Exagero é claro. Alguma coisa tenho feito. Mas não creio que seja do género que lhe agrade muito».
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*: Ver aqui para perceber mais ou menos esta história de grupos, ciclos, conjuntos e arcos - outra forma, como aí digo, de me colocar a seguinte pergunta: «como contar esta história?».
quinta-feira, 7 de abril de 2011
Meia-página III-A-I-2-e:
Composta com excertos de poemas de Alberto Caeiro, e uma referência visual já antiga.
Depois de ver a página acabada e colorida (pela Catarina) e o seu primeiro quadradinho, lembrei-me logo de uma imagem "clássica" da banda-desenhada (à semelhança do que me acontecera antes com esta sequência):
Acima reconhecerão, é claro, o célebre jovem repórter belga (agora acusado de racismo), acompanhado do seu famoso cão, o milú. A sombra e o círculo são as semelhanças que me despertaram a atenção.
^^^ Uma versão antiga do mesmo desenho?
Hergé desenvolveu o seu estilo peculiar redesenhando histórias antigas, estilo esse que viria mais tarde a ser chamado "linha clara" ("ligne claire") - o mesmo se pode dizer do tom "colonialista" das primeiras aventuras de Tintim.
A essa juntou-se depois outra imagem clássica:
A do também célebre cowboy que dispara mais rápido que a sua sombra!
Voltarei a falar-vos aqui das aventuras dessa fantástica personagem, e do seu criador.
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Imagens similares, mas a "sombra" do meu Fernando Pessoa é a única que é mais rápida do que ele... ou, pelo menos: menos lenta.
Composta com excertos de poemas de Alberto Caeiro, e uma referência visual já antiga.
Depois de ver a página acabada e colorida (pela Catarina) e o seu primeiro quadradinho, lembrei-me logo de uma imagem "clássica" da banda-desenhada (à semelhança do que me acontecera antes com esta sequência):
Acima reconhecerão, é claro, o célebre jovem repórter belga (agora acusado de racismo), acompanhado do seu famoso cão, o milú. A sombra e o círculo são as semelhanças que me despertaram a atenção.
^^^ Uma versão antiga do mesmo desenho?
Hergé desenvolveu o seu estilo peculiar redesenhando histórias antigas, estilo esse que viria mais tarde a ser chamado "linha clara" ("ligne claire") - o mesmo se pode dizer do tom "colonialista" das primeiras aventuras de Tintim.
A essa juntou-se depois outra imagem clássica:
A do também célebre cowboy que dispara mais rápido que a sua sombra!
Voltarei a falar-vos aqui das aventuras dessa fantástica personagem, e do seu criador.
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Imagens similares, mas a "sombra" do meu Fernando Pessoa é a única que é mais rápida do que ele... ou, pelo menos: menos lenta.
segunda-feira, 4 de abril de 2011
A meia-página seguinte (III-A-I-2-d)...
...tem por tema o preâmbulo do famoso "dia triunfal" (à semelhança das duas primeiras deste grupo de cinco - ver aqui), e exige portanto o mesmo grau de atenção à verdade do Acontecimento, sendo essa verdade dupla: há aquela que Fernando Pessoa contou, e aquela, factual, que muitos investigadores pessoanos se dedicam a elucidar, no seguimento do que fez Ivo Castro ao oficializar o "problema" (na sua edição crítica de "O Guardador de Rebanhos", de 1981)...
Baseando-me desordenadamente nas informações disponíveis, como é infelizmente meu hábito, optei por apresentar, como primeiro sinal da poética propriamente caeiriana nesta banda-desenhada, a primeira metade do poema "A Salada" - uma das quatro* canções doentes inseridas em "O Guardador de Rebanhos".
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*: Ou duas, ou cinco... segundo as habituais dúvidas de Fernando Pessoa.
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Na primeira lista de poemas elaborada por Pessoa*,em número de 7, essas mesmas quatro canções já estão presentes e serão mais tarde consideradas "canções doentes".
Nessa primeira lista a "doença" ocupa portanto um lugar considerável.
O primeiro poema da lista é "A Salada" e no manuscrito final de Pessoa, está assinalado com a seguinte indicação em inglês: "early"**.
Este poema poderá ter sido especial para F.P., que numa nota solta escreveu***:
«Aqui, na poesia 17, é que colhemos em acção as influências fundadoras de Caeiro: Cesário Verde e os neo-panteístas portugueses. E o 7º verso é Cesário Verde puro. O tom geral podia ser quase de Pascoaes».
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*: Que se encontra no livro "Poesia" de Alberto Caeiro, publicado pela Assírio & Alvim em 2004 (entre outros).
**: Aqui, o link para uma reprodução fac-similada do manuscrito, tal como nos é facultado no Espólio Digital de Fernando Pessoa, da responsabilidade da Biblioteca Nacional.
***: Como nos relata Fernando Cabral Martins na edição acima referida.
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Última nota: no último quadradinho desta m-p Mário de Sá-Carneiro lê aos amigos as primeiras frases do seu conto "Resurreição" (amigos que sob nomes aproximados aí desempenham papéis importantes). (Informação contida no postal de 20 de Março de 1914 endereçado a Fernando Pessoa).
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[^^^ Página 103].
[^^^ Página dupla 102-103].
...tem por tema o preâmbulo do famoso "dia triunfal" (à semelhança das duas primeiras deste grupo de cinco - ver aqui), e exige portanto o mesmo grau de atenção à verdade do Acontecimento, sendo essa verdade dupla: há aquela que Fernando Pessoa contou, e aquela, factual, que muitos investigadores pessoanos se dedicam a elucidar, no seguimento do que fez Ivo Castro ao oficializar o "problema" (na sua edição crítica de "O Guardador de Rebanhos", de 1981)...
Baseando-me desordenadamente nas informações disponíveis, como é infelizmente meu hábito, optei por apresentar, como primeiro sinal da poética propriamente caeiriana nesta banda-desenhada, a primeira metade do poema "A Salada" - uma das quatro* canções doentes inseridas em "O Guardador de Rebanhos".
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*: Ou duas, ou cinco... segundo as habituais dúvidas de Fernando Pessoa.
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Na primeira lista de poemas elaborada por Pessoa*,em número de 7, essas mesmas quatro canções já estão presentes e serão mais tarde consideradas "canções doentes".
Nessa primeira lista a "doença" ocupa portanto um lugar considerável.
O primeiro poema da lista é "A Salada" e no manuscrito final de Pessoa, está assinalado com a seguinte indicação em inglês: "early"**.
Este poema poderá ter sido especial para F.P., que numa nota solta escreveu***:
«Aqui, na poesia 17, é que colhemos em acção as influências fundadoras de Caeiro: Cesário Verde e os neo-panteístas portugueses. E o 7º verso é Cesário Verde puro. O tom geral podia ser quase de Pascoaes».
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*: Que se encontra no livro "Poesia" de Alberto Caeiro, publicado pela Assírio & Alvim em 2004 (entre outros).
**: Aqui, o link para uma reprodução fac-similada do manuscrito, tal como nos é facultado no Espólio Digital de Fernando Pessoa, da responsabilidade da Biblioteca Nacional.
***: Como nos relata Fernando Cabral Martins na edição acima referida.
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Última nota: no último quadradinho desta m-p Mário de Sá-Carneiro lê aos amigos as primeiras frases do seu conto "Resurreição" (amigos que sob nomes aproximados aí desempenham papéis importantes). (Informação contida no postal de 20 de Março de 1914 endereçado a Fernando Pessoa).
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[^^^ Página 103].
[^^^ Página dupla 102-103].
sábado, 2 de abril de 2011
A meia-página III-A-I-2-c...
... seguida do fac-simíle do plano da aí referida revista, tal como pode ser encontrando na já aqui várias vezes mencionada fotobiografia do poeta, da autoria de Richard Zenith, que nos diz na legenda que o acompanha: «Sumário (...) pela mão de Sá-Carneiro e Pessoa a dirigir», o que possibilitou a cena acima desenhada.
... seguida do fac-simíle do plano da aí referida revista, tal como pode ser encontrando na já aqui várias vezes mencionada fotobiografia do poeta, da autoria de Richard Zenith, que nos diz na legenda que o acompanha: «Sumário (...) pela mão de Sá-Carneiro e Pessoa a dirigir», o que possibilitou a cena acima desenhada.
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