domingo, 4 de dezembro de 2011

A meia-página III-B-III-2-c...

... cujo título poderia ser somente outra referência shakespeariana, mas como se trata aqui da obra de um poeta mais do que complexo, o título é quase literalmente o último verso de um poema de Ricardo Reis, datado de 28/09/1932:

Nada fica de nada. Nada somos.
Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos
Da irrespirável treva que nos pese
Da húmida terra imposta,
Cadáveres adiados que procriam.

Leis feitas, estátuas vistas, odes findas —
Tudo tem cova sua. Se nós, carnes
A que um íntimo sol dá sangue, temos
Poente, porque não elas?
Somos contos contando contos, nada.


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Como escreveu Álvaro de Campos, «a metafísica é uma consequência de estar mal disposto».

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