terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A segunda meia-página deste grupo de 5 (II-B-III-2-b):

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Uma nota à "história do meu mau pessoanismo" (ver post anterior):

... Consegui no entanto ainda ir assistir ao "Filme do Desassossego" de João Botelho, arrastando-me para isso do Cacém até ao Teatro Nacional de São Carlos, depois de não ter acertado com a data da sua exibição em Sintra e ter-me sido impossível, por falta de disponibilidade e de transporte público para aquela zona de Lisboa, ir assistir à "película" aquando da sua estreia.

Curiosamente, o filme fez-me lembrar outro projecto que, se não me engano, foi anunciado em 2008 por altura do 1º Congresso Internacional Fernando Pessoa (na rádio - pelo menos na Antena 2 - e acho que o foi também num número qualquer do Jornal de Letras) e do qual nunca mais ouvi falar, com muita pena minha porque parecia prometedor: uma série televisiva adaptando a série de contos de raciocínio de Abílio Quaresma, o Decifrador.

Por hoje é tudo.

5 comentários:

Nuno disse...

Miguel e que tal o filme? A propósito do Quaresma, também já tentei ver junto da rtp o que se passa com isso. Mas depois de ler o livro com os contos percebe-se que não é fácil de adaptar (aliás, a qualidade dos contos é no minímo duvidosa).

Miguel Moreira disse...

Nuno, o filme não me agradou muito porque apesar de ser um bom filme (talvez) e um bom esforço para lutar contra os defeitos da exibição comercial do cinema em salas, adversa aos filmes portugueses, achei-lhe uma série de incongruências a nível estritamente pessoano (e não só) que me irritaram solenemente.

Fico contente por ver que também não lhe passou despercebido o projecto para a RTP (penso que a ideia é de uma senhora, mas não me lembro do seu nome - será a própria organizadora do edição da Assírio, a Ana Maria Freitas?).
Eu não achei a qualidade dos contos duvidosa Nuno (se bem que sejam praticamente inconclusivos em termos de trama policial - acho que percebi o que o Nuno quis dizer) porque ao lê-los, e talvez seja defeito meu, vejo neles uma espécie de retrato parcial da vida diária de Fernando Pessoa em Lisboa e arredores, e, até, um ponto de vista coincidente em alguns aspectos com o do próprio Bernardo Soares (verifico agora que esta ideia está também no prefácio ao livro, lá se vai a originalidade do comentário)...

Nuno disse...

Gostava de ver a opinião do Miguel sobre o filme. Talvez uma crítica no blog ;)

Quanto referia a qualidade duvidosa era mesmo em termos de construção e de interesse. Achei-os de qualidade menor, mas sim, com certeza têm interesse de um ponto de vista estritamente Pessoano.

Miguel Moreira disse...

Ah... Nuno, Nuno. Eu pensava já lhe ter dado a minha opinião sobre o filme... ;)
Talvez devesse de facto fazer um post mais detalhado sobre o tema, mas eu prefiro não pôr em causa o percurso artístico do realizador (cuja obra desconheço completamente, incluíndo o filme "Conversa Acabada" de 1980, sobre Pessoa e Sá-Carneiro)
assim como as suas intenções artísticas (que não sei quais são), realçando aquilo que são, a meu ver, uns erros (talvez graves) de interpretação da matéria pessoana propriamente dita, em que o filme parece assentar. (Mas este é um assunto com uma já longa história, e não parece estar perto de acabar).

Quanto aos contos do Quaresma: parece-me que, aproveitando os seus "defeitos", se poderia trabalhá-los de forma a encaixarem no estereótipo do formato da série televisiva (tão próxima do plano original - serial), e, tendo bem presente a psicologia do Decifrador (segundo o perfil descrito pelo próprio F.P.), seria possível, imagino, ter uma obra de qualidade.
(Mas a produção da coisa talvez fosse cara demais porque, enfim, não poderia ser feita num estúdio de televisão)...

Para acabar: não terá tentado F.P. escrever um argumento para um filme? Penso que sim mas não sei onde é que isso pára.

Miguel Moreira disse...

Ah, acabei de descobrir: é o inédito "The Multiple Nobleman" - «uma comédia de erros concebida para o palco ou mesmo para o cinema, com um "Half plan of play or film" escrito em inglês e com três ou quatro fragmentos de diálogo em português», segundo Richard Zenith (escritos em que: «reúne genialmente o desejo de ser "fino" com o desejo de ser muitos»), no seu posfácio ("Post-mortem") à sua edição de "A Educação do Estóico" do Barão de Teive (2001)...