sábado, 6 de novembro de 2010

Em mais um dos intervalos para estudo que sou forçado a fazer regularmente, um livro de história escrito em 1978 por um professor americano e consultor político sobre Portugal para os E.U.A. em 1974 e 1976, e republicado agora pela "Europa-América":

De leitura enriquecedora, este livro tem o mérito de nos colocar, até ao nível dos estudos históricos, no contexto português, ao mesmo tempo que nos oferece uma perspectiva objectiva, neutra, portanto desligada das "nossas" habituais tomadas de partido; baseia-se numa extensa bibliografia que inclui por exemplo os relatos hora-a-hora de cônsules e ministros ingleses ("registos diplomáticos") residentes em Portugal à época, relatos esses que permitem ao autor eliminar dos factos comprovados, classificando-o como uma possível peça de propaganda política republicana, o caso da reviravolta operada pela intervenção de um talvez inexistente diplomata alemão - a famosa "bandeira branca" que terá precipitado a rendição monárquica durante a revolução de Outubro de 1910.

Oferece-nos também algumas ilustrações da época; os dois exemplos abaixo apresentados são bastante elucidativos do comportamento dos políticos no decorrer das assembleias, que rapidamente passaram a ter como único propósito a paralização dos sucessivos governos do partido dominante, de forma a precipitar as várias revoluções (monárquicas, neo-conservadoras e até republicanas) que se seguiram na década e meia seguinte, e que foram muitas!...

Das várias razões apontadas para o insucesso da Primeira República, Douglas L. Wheeler aponta quatro:

- o "personalismo";
- o sectarismo político e ideológico;
- a "divisão da terra",
- e a "tensão geográfico-administrativa".

Quanto a mim, uma razão certa para a derrocada do sistema político português que viu nascer o século XX, e que os membros do grupo da revista "Orpheu" terão sentido na pele, é o humor grosseiro que parece ter sido a nota dominante da sociedade daqueles tempos (e que uma ou outra mente mais ou menos atenta à nossa situação actual deve reconhecer nos dias de hoje), humor esse que produziu, por exemplo, a magnificamente horripilante ilustração abaixo apresentada (comportamental e sexualmente falando):

Não é de admirar que o nosso "Futurismo" tenha sido tão depreciado pela opinião pública sua contemporânea...

Sem comentários: