quarta-feira, 17 de março de 2010

Com a publicação das duas meias-páginas precedentes foi atingida a marca das cento e cinquenta m-p a serem divulgadas neste blogue, e, no que diz respeito à banda-desenhada propriamente dita (da minha autoria assim como da Catarina Verdier - responsável pela ilustração acima apresentada, intitulada "Metades") a marca das 150 m-p é ainda mais significativa, por representar exactamente metade do número total de meias-páginas de que irá ser composta.

Tratando-se de facto de uma "composição", a história rege-se por uma série de "leis" formais que a estruturam e que já foram mencionadas anteriormente neste blogue:

- Cada meia-página é a unidade básica da narrativa*, e é devedora da forma tradicional de publicação de BD no suporte que a popularizou nos E.U.A. na primeira metade do séc. XX (publicação periódica de segmentos que pressupõem um tipo de continuidade narrativa, ou de recorrência de personagens e situações, mas que são apreciados autonomamente).

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*: Sendo essa unidade passível de decomposição própria, mas mutável, tudo isto dizendo respeito à natureza própria do meio. Para mais ideias sobre esse tema, ver por exemplo o seguinte "link" (em francês).

- Desenvolvendo portanto as duas ideias acima referidas, de segmento e continuidade, e dada a unidade narrativa das cinco primeiras m-p que foram realizadas, decidi inicialmente que, para propósitos de ordenação da história, ela se desenrolaria por grupos narrativos de cinco meias-páginas (até à data presente designados como "ciclos" - com alguma reticência, crescente, já que a palavra ía-me sugerindo uma circularidade de mais ampla envergadura), grupos esses que espelhariam a autonomia das suas unidades de base, a um nível superior.

- Respondendo a esse meu desejo de circularidade mais ampla, e dado o conteúdo das primeiras quinze m-p, que no seu conjunto introduziam elementos essenciais da personalidade de F.P. - origem familial, morte do pai, primeiro pré-heterónimo - estabeleci esse "conjunto" de quinze como sendo a Introdução à história, e nomeei dessa forma este e os seguintes grupos de quinze, que iriam mais uma vez espelhar a outro nível superior as ideias de autonomia e continuidade narrativa (- da ideia de Introdução decorreu logicamente a de Conclusão [que se encontra pré-definida algures no início deste blogue], o que acentuou a ideia de "conjunto" composto por quinze m-p, Conclusão essa que ocorreria em momento indeterminado ou, melhor dizendo, contagem indeterminada de unidades básicas).

Continuei então a compor a história através de "ciclos" de 5 e "conjuntos" de 15 m-p, que se foram formando organicamente a partir dessas regras e de outra que ainda não referi neste post e que foi um dos pontos de partida para essa reflexão (vindo ela a mostrar-se determinante posteriormente) - o título da primeira meia-página do terceiro "ciclo" de cada "conjunto" deveria ser uma data, à semelhança do que eu inadvertidamente fizera na Introdução...

Introdução:
- 1º conjunto de 15 - apresentação da personagem e início da sua vida.
Desenvolvimento:
- 2º conjunto de 15 - 1º periodo sul-africano (e inglês).
- 3º conjunto de 15 - férias em Portugal e "regresso a casa".
- 4º conjunto de 15 - 2º e último periodo sul-africano (e inglês).
- 5º conjunto de 15 - regresso definitivo à "verdadeira" casa.
- 6º conjunto de 15 - vida de estudante em Portugal.
- 7º conjunto de 15 - decorrer problemático da vida de estudante em Portugal...

(Estes resumos temáticos são posteriores à realização das meias-páginas e podiam ser um pouco diferentes consoante a abordagem mas são, por assim dizer, somente "técnicos").

Chegado aqui, estranhei fortemente o impulso que me lavara a dar títulos com datas a todas as cinco m-p do terceiro "ciclo" de 5 deste sétimo "conjunto" de 15, reforçando assim o momento cronológico aí representado (o final da vida de estudante em Portugal).

Procurei depois descobrir se a própria banda-desenhada não me poderia dar respostas para um conjunto de dúvidas específicas a seu respeito, a mais importante devendo-se à minha necessidade recorrente de elevar essa circularidade narrativa a um nível sempre superior do que aquele em que me vou encontrando, com o propósito de ordenar a história, como já disse.
Outra forma de colocar a seguinte pergunta: «como contar esta história?».

Convém dizer que eu fora entretanto obrigado a definir um número total de (meias-)páginas para a história, dado a pergunta para a qual eu já não tinha resposta me ter sido feito umas poucas vezes: trezentas veio a ser a resposta, 150 páginas, sem no entanto eu ter a certeza de que tal viria a ser verdadeiro**.

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**: Na alvorada deste projecto, quando eu não tinha sequer noção da complexidade e do esforço necessário para tratar condignamente o tema, imaginara eu possível realizar esta história em 42 páginas - mais ou menos o tamanho de um álbum clássico de BD franco-belga - gosto de números redondos e de metas concretas.

Lembrei-me então de que eu já por uma vez realizara um "ciclo" de cinco meias-páginas onde a importância de um momento cronológico da vida de F.P. fora reforçado, não por meio do efeito repetitivo empregue neste caso, criando assim uma maior unidade entre elas, mas antes por ter escolhido uma única frase que serviu de título para as cinco, segmentando-a em cinco partes: "No dia 16 de Dezembo de 1904... dia esse ansiosamente aguardado... tem lugar o exame intermédio... e de todos Fernando é o mais confiante... mas:"...

Alertado para esse facto procedi a uma rápida e atrapalhada contagem, chegando por fim à seguinte conclusão:

- Se o final de cada "conjunto" narrativo de três "ciclos" (15 m-p) é assinalado pela primeira meia-página de cada terceiro "ciclo" (5), contendo ela uma data no título, terei acabado de descobrir um tipo de conjunto de ordem maior, também ele é assinalado por uma data de ordem maior.
Cada um desses novos conjuntos seria portanto de 45 m-p, dividindo-se em 3 ciclos de 15 m-p (e agora é que a palavra me agrada), divididos estes em 3 grupos de 5 m-p!...

Prosseguindo a contagem, descobri que afinal o número total de meias-páginas escolhido às cegas (300) acolhia harmoniosamente esta percepção estrutural já que:

45+45+45+45+45+45 = 270 m-p, às quais se juntam as 15+15 da Introdução e Conclusão, o que dá... 300!!!...

Eu acho isto tudo muito divertido!... e prático:

- É que dos seis conjuntos de 45 meias-páginas acima referidos se podem naturalmente formar três outros, uma escala acima, que em tudo lembram a ideia inicial de introdução, desenvolvimento e conclusão, ou - passando para a gíria teatral - os três "actos" do desenvolvimento tradicional da acção - neste caso específico: três arcos narrativos compostos cada um por dois conjuntos de três ciclos divididos cada um em três grupos de 5 m-p, um desenvolvimento tripartido portanto, com introdução e conclusão próprias (dois ciclos de 15 m-p)...

Estas questões técnicas permitem-me orientar com mais clareza e ordem o desenvolvimento da narrativa à medida que vou conjecturando sobre a preponderância de cada tema principal (ou outro elemento que se destaque), em cada grupo (5), ciclo (15), conjunto (45), e agora arco (90).

Para dar um exemplo: ao descobrir a existência dos três primeiros conjuntos de 45 m-p, percebi que o personagem Morte aparece sempre no primeiro grupo de 5 de cada um, portanto verão aparecer brevemente a maldosa personagem (ou instrumento do destino, e meta do mesmo, no que aparentemente nos diz respeito), já que brevemente se comecerá a publicar neste blogue o segundo conjunto de 45 m-p do segundo arco narrativo de 90 (II-B-I-1 = arco-conjunto-ciclo-grupo).

Poderão também verificar na barra lateral do blogue a nova numeração dos grupos de 5 correspondente à estrutura definitiva desta banda-desenhada - algo complicada mas fiel ao que vou definindo.

Voltando à marca das cento e cinquenta meias-páginas, metade da BD, e encarando os conjuntos narrativos de 45 de outra forma:

- A primeira metade da história apresentada correspondeu à face usualmente oculta da vida de Fernando Pessoa (infância, adolescência e transição para a vida adulta - o todo dos primeiros três conjuntos).

- A segunda irá corresponder à face pública do escritor: o(s) Poeta(s) da revista Orfeu, o Amigo de Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros, o Namorado de Ofélia Queirós, o Autor da Mensagem e o Homem que acabaria a vida isolado sem, segundo as suas últimas palavras escritas, nunca ter sabido o que o amanhã iria trazer...

4 comentários:

Nuno disse...

Parabéns aos dois autores pela meta atingida. O número 3 é simbolicamente (e numerologicamente) o número da obra completa, da obra acabada; por isso não pode senão ser um bom augúrio.

Miguel Moreira disse...

Obrigado Nuno.

teresa. disse...

Parabéns e óptima continuação de segunda metade!

Miguel Moreira disse...

Obrigado Teresa.